29 de setembro de 2010

Entrevista - Norte Cartel

O ano de 2010 esta sendo um excelente ano para o hardcore aqui no Brasil e para mim, o ponto de partida, onde tive certeza que o hardcore iria me surpreender no decorrer do ano, foi o cd Fiel à Tradição dos cariocas do Norte Cartel. Esse foi o primeiro cd que eu comprei esse ano e posso dizer que fiquei realmente impressionado com a fúria contida nesse álbum, são 13 músicas no bom estilo NYHC velho, com letras que tratam de questões como honra, convicção, traição, amizade, entre outros temas que são verdadeiras realidades para quem vive o hardcore cada dia, e melhor de tudo isso, cantado em português. Conversei com o Longo, baixista da banda, que nos concedeu essa entrevista, ainda quando o projeto era lançar o zine impresso BUST IT!.



Salve brothers, obrigado por concederem essa entrevista, para começar, falem um pouco sobre como surgiu o Norte Cartel.

O Norte Cartel fez seu primeiro show em 2006 com a proposta de resgatar o hardcore oldschool numa época em que a maioria das bandas de HC que surgiam ou enveredavam pro metal ou pro emo (não muito diferente de 2010...). Três integrantes da formação original já tocavam juntos no Solstício, uma banda de Cabo Frio, há vários anos. Depois eu (Longo), que na época tocava com o La Sombra, uma banda do Rio que mesclava NYHC com punk/hc nacional, assumi o baixo.

Qual é a origem e o significado do nome Norte Cartel?

Cartel significa carta de desafio. O significado é algo como uma provocação que direciona, que norteia. De preferência que norteie rumo aos velhos valores e ao velho jeito de se fazer e tocar hardcore, essa expressão cultural das ruas que, no que depender de nós, não vai se transformar em uma mera caricatura risível e passível de deboche como muitos parecem querer.

É notável uma influência de NYHC nas músicas do Nortel Cartel, tanto o NYHC de 80 como do começo de 90. Quais nomes vocês poderiam citar como principais influências?

Especificamente de NY, Breakdown, Warzone, Skarhead, Madball, SOIA e Agnostic são bandas que sempre ouvimos e com certeza acabaram nos influenciando muito. Mas fora de NY bandas como Barcode, Negative Approach, Everyday Madness e bastante punk/hardcore nacional também sempre estiveram presentes. Não dá pra levar a sério alguém que tenha uma banda de HC no Brasil e não curta Ratos de Porão e Olho Seco, por exemplo. rs.

Esse ano vocês lançaram o “Fiel à Tradição” que diga-se de passagem é um álbum extremamente forte e agressivo. Como foi e como está sendo a repercussão deste álbum aqui na America Latina e na Europa?

Nós ficamos um tempo parados logo após o lançamento do álbum em função de um acidente sofrido pelo Chehuan, nosso vocalista. Apesar disso, o retorno que estamos tendo, mesmo passando um tempo distante dos palcos, tem sido impressionante. Pessoas de outros países, em especial Argentina, Portugal e Alemanha nos escrevem para elogiar, pedir o álbum, dizer que gostariam de nos ver ao vivo em seus países. Ficamos realmente felizes em saber que um disco que foi pensado e produzido com tanto cuidado esteja tendo uma repercussão tão positiva entre a galera que curte hardcore não só aqui no Brasil como também lá fora.



Este álbum foi lançado em uma parceria entre dois dos melhores selos brasileiros, a Seven Eight Life e a Caustic, como surgiu essa proposta?

São ótimos selos, com um esquema de distribuição profissional e que nos dão a garantia de que o CD vai chegar até as pessoas que o desejam ouvir. Isso por si só já nos dá uma tranquilidade muito grande. A Caustic já era uma velha conhecida nossa em função do Daniel e o Dudu já terem tocado no Solstício, que foi lançado pelo selo. A 78 Life lança o Confronto, outra banda do Chehuan, e acabou abraçando a idéia também. Quando terminamos de gravar o álbum mostramos para os selos, eles curtiram e, felizmente, uniram forças para viabilizar o lançamento.

Em meados de Maio de 2009 vocês foram convidados para tocar em um festival chamado Skincore Fest, aceitaram, mas cancelaram depois de saberem mais sobre a banda alemã Endstufe que iria participar do festival e já havia participado de coletâneas neo-nazistas. Esta questão já foi muito bem esclarecida no myspace do Norte Cartel, mas como foi a repercussão do caso na época?

Foi um episódio extremamente desagradável. Mas tivemos o cuidado de conversar detalhadamente com cada uma das pessoas que nos pediu explicações, tanto pessoalmente quanto via internet, e deixar claro o nosso posicionamento de não participação no evento. É realmente chato você passar quase 15 anos defendendo determinados ideais através de uma conduta sempre correta pra, do dia pra noite, ver a sua banda ser acusada de neo-nazista. É uma coisa que magoa muito, mas que felizmente foi logo contornada não só graças a nós, mas a cada um dos amigos que conhecem nosso caráter e nos deram apoio neste momento difícil.

Nesses 4 anos desde o lançamento da demo, quais foram os momentos mais marcantes do Norte Cartel para vocês?

O show de lançamento do Fiel À Tradição aqui no Rio certamente foi um dos momentos mais marcantes. Foi, literalmente, a realização de um sonho que nos deu muito trabalho, muita dor de cabeça e exigiu superação em vários momentos críticos. Mas que acabou se tornando possível através do esforço pessoal de cada um de nós quatro. Foi, sem dúvida, o momento mais marcante do NC

Quais são as dificuldades que vocês enfrentam para manter o Norte Cartel e o que vocês acham que falta evoluir em nosso país com relação ao hardcore?

Principalmente a falta de valorização de que é vítima o nosso underground. Nós temos bandas que não deixam nada a dever às americanas ou européias em termos de qualidade. Mas a visão não só dos produtores de shows, mas por muitas vezes dos próprios músicos é ainda completamente amadora (tirando algumas exceções pontuais). Isso acaba se refletindo no público que, com a circulação de informação que ocorre atualmente, é cada vez mais exigente e muitas vezes se recusa a pagar um determinado valor por um show por não achar que o valha, o que acaba gerando um ciclo vicioso. Os produtores não pagam as bandas. As bandas não conseguem cobrir seus gastos e ou não tocam ou acabam ficando sem ter como investir em equipamento. Os shows acabam ficando piores, etc. Acho que pensar o hardcore profissionalmente, por mais complicado que possa soar, é o que mais falta evoluir na cena nacional. Mas, se comparada à de anos atrás, nossa cena evoluiu muito!



Falem um pouco sobre os outros projetos de vocês e como vocês fazem para conciliar o tempo entre esses projetos e o Norte Cartel.

O Chehuan canta no Confronto, banda de metal extremamente representativa e atuante em nossa cena. Eu toco baixo nas bandas Os Pazuzus (surf/punk instrumental) e Os Carburadores (surf/rockabilly), além da Mauk & Os Cadillacs Malditos (garage). Dá trabalho, mas sempre procuramos marcar todos os shows com bastante antecedência justamente para evitar os conflitos entre datas.

Quais são os próximos planos para o Norte Cartel?

Voltar a cair na estrada para fazer a divulgação do Fiel À Tradição com shows destruidores. E continuar a elaboração de músicas para um novo álbum. Apesar do último CD acabar de ter sido lançado, já temos muito material novo pronto na gaveta.

Citem algumas bandas que vocês gostam dentro da nossa cena atual.

Existem várias ótimas bandas. Mas Cervical (Macaé), Sangue X Ódio Hardcore (Ibiúna) e Sangue Inocente (Piracicaba) são bandas com as quais já dividimos os palcos algumas vezes e cujos shows sempre foram memoráveis. Outra banda brasileira sensacional na minha opinião é o Agrotóxico.

Que conselho vocês dariam para as bandas que estão começando agora?

Ter uma banda é uma atividade extremamente prazerosa e divertida mas que também exige muito comprometimento e dedicação. Muitas vezes acaba se tornando algo desanimador em função da falta de resultados práticos. Quem se deixa abater pula fora do barco. Quem persevera e se recusa a desistir acaba dando um jeito de conciliar família, trabalho e estudos com a correria e consegue sempre colher ótimos frutos. Não necessariamente frutos financeiros, mas recompensas muito maiores como fazer grandes amizades, conhecer novos lugares e pessoas loucas dos mais diferentes tipos, além de viver experiências que, certamente, no futuro serão muito queridas. O conselho pra quem está montando uma banda, portanto, é o seguinte: arrume pessoas que estejam na mesma sintonia que você e não desista NUNCA!

Boa sorte ai nos corres. Esse espaço fica aberto para vocês deixarem uma mensagem para quem está lendo essa entrevista.

Valeu pelo espaço, Diego! Parabéns pela iniciativa, que venham outras edições do BUST IT. Aos que se interessaram em ler a entrevista, nosso sincero obrigado! Caso se interessem mais pelo Norte Cartel e pelo nosso novo álbum Fiel À Tradição: http://myspace.com/nortecartel .
Paz a todos!






Para maiores infos: Myspace, Twitter, Seven Eight Life, Caustic

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